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Os fenícios: 1. Introdução

by Lucas Gomes

Povo de origem semita da costa setentrional do mar Vermelho (atual Líbano).
Por volta do ano 1000 a.C., cidades-estados instauraram a Fenícia como federação,
sob a hegemonia de Tiro. Colonizaram o sul da península Itálica, parte da Sicília,
litoral sul da península Ibérica e norte da África, onde fundaram Cartago em 814
a.C. A partir de 800 a.C., a Fenícia fez parte, sucessivamente, do Império Babilônico,
do Império Persa e do Império Macedônico. Com a queda de Tiro, em 332 a.C., a
hegemonia passou para Cartago, que enfrentou os romanos nas Guerras Púnicas. Cartago
foi derrotada em 146 a.C.

Os fenícios chegaram às costas libanesas por volta de 4.000 a.C. A origem deste povo não é algo muito bem
resolvida, sabe-se que eram semitas provenientes do golfo Pérsico, ou da Caldéia. No começo, estiveram
divididos em pequenos estados locais, dominados às vezes pelos impérios da Mesopotâmia e do Egito, dos
quais adquiriram boa parte da sua cultura. Apesar de uma condição submissa, os fenícios conseguiram
desenvolver uma florescente atividade econômica que lhes permitiu, com o passar do tempo, transformar-se
numa das potências comerciais hegemônicas do mundo banhado pelo Mar Mediterrâneo.

A dependência dos primeiros fenícios em relação ao poderio egípcio iniciou-se com a IV dinastia (por volta
de 2613-2494 a.C.), e é notada pela grande quantidade de objetos de influência egípcia encontrados nas
escavações arqueológicas. No século XIV a.C., a civilização grega de Micenas fez seu aparecimento na
Fenícia, com o estabelecimento de comerciantes em Tiro, Sídon, Biblo e Árado. As invasões dos chamados
povos do mar significaram uma grande mudança para o mundo mediterrâneo: os filisteus se instalaram na
Fenícia, enquanto Egito e Creta começavam a decair como potências. Dessa forma, a Fenícia estava preparada
no século XIII a.C. para iniciar a sua expansão marítima.

A cidade de Tiro assumiu o papel hegemônico na região. Em pouco tempo, seus habitantes controlaram todas as
rotas comerciais do interior, comercializando principalmente madeira de cedro, azeite e perfumes, passando
posteriormente a trazer ouro, prata e diversas pedras e metais preciosos. Quando dominaram o comércio na
área, iniciaram a expansão pelo Mar Mediterrâneo, onde fundaram muitas colônias e feitorias, que foram se
estabelecendo tão somente pela atividade comercial, algo até então incomum, visto que todos os grandes
domínios se estabeleciam pelo uso das armas e emprego da força.


Navios fenícios

A principal atividade econômica era o comércio marítimo. Realizaram um grande
intercâmbio com as cidades gregas e egípcias e as tribos litorâneas da África
e da Península Ibérica, no Mediterrâneo. Possuiam uma poderosa classe de comerciantes
ricos e utilizavam o trabalho escravo. A base da organização política eram os
clãs familiares, detentores da riqueza e do poder militar. Cada cidade-estado
era governada por um rei, indicado pelas famílias mais poderosas. Criaram técnicas
de navegação e de fabricação de barco, vidro, tecido e artesanato metalúrgico.
Criaram um alfabeto, posteriormente adotado com modificações pelos gregos e a
partir do qual foi criado o alfabeto latino. Sua religião era politeísta, com
cultos e sacrifícios humanos.br>

Os fenícios escalaram primeiro em Chipre, ilha com a qual há muito mantinham contato, e no século X a.C. se
estabeleceram em Cício ou Kítion (Larnaca). A faixa costeira da Anatólia também conheceu a presença
fenícia, embora lá não se tenham estabelecido colônias permanentes. No sul da Palestina, sob domínio judeu
desde o fim do século XI a.C., assentaram-se colônias comerciais estáveis, assim como no Egito, sobretudo
no delta do Nilo.

A região ao oeste do Mar Mediterrêno atraiu os fenícios que mantiveram então, relações econômicas com
Creta, mas a presença dos gregos os induziu a dirigirem-se mais a oeste, chegando à Sicília, onde fundaram
Mócia (Mótya), Panormo (Panormum) e Solos (Sóloi). No norte da África, os fenícios se estabeleceram em
Útica no século XII a.C. e fundaram outros núcleos no século IX a.C., entre os quais Cartago. Na Península
Ibérica, Gades (Cádiz), fundada no século XII a.C., foi o porto principal dos fenícios, que ali adquiriam
minerais e outros produtos do interior. Na ilha de Malta, a Fenícia impôs seu controle no século VIII
a.C., e a partir de Cartago fez o mesmo em relação a Ibiza no século VI a.C. As cidades eram fundadas com
intuito de paradas portuárias das embarcações, eram como locais para reparos das embarcações e recuperação
dos seus comandados, mas a atividade comercial acabou aflorando naturalmente, fazendo com que se tornassem
centros de comércio com o restante da Europa. Neste sentido por exemplo, a relação com a Sardenha nunca
foi de inimizade, mas sim de uma proximidade, pois os interesses eram distintos entre si, visto que a
identificação com as cidades portuárias era muito bem esclarecida e neste sentido nunca figurou como uma
ameaça para o povo da Sardenha.

Houve um aproveitamento dos fenícios do que traziam os sardos com o sal, por exemplo, que era utilizado
para a preservação de peixes como alimento para as longas jornadas. Salgavam o atum e a sardinha,
principalmente.

O esplendor econômico e cultural da Fenícia viu-se ameaçado a partir do século IX a.C., quando a Assíria,
que precisava de uma saída para o mar a fim de fortalecer sua posição política no Oriente Médio, começou a
introduzir-se na região. O rei assírio Assurbanipal estendeu sua influência a Tiro, Sídon e Biblo, cidades
às quais impôs pesados tributos. A dominação assíria obrigou as cidades fenícias a firmarem uma aliança:
em meados do século VIII a.C., Tiro e Sídon se uniram para enfrentar os assírios, aos quais opuseram tenaz
resistência; mas, apesar desses esforços de independência, a Assíria manteve sua hegemonia. Os egípcios,
também submetidos à influência assíria, estabeleceram um pacto defensivo com Tiro no início do século VII
a.C., mas foram vencidos.


Vestígios de uma povoação fenícia no sítio arqueológico
de Nora, na ilha da Sardenha. As ruínas fenícias mais
antigas datam do século VII a.C.

No fim desse século, Nabucodonosor II impôs a hegemonia da Babilônia no Oriente Médio. O rei babilônico
conquistou a região da Palestina e, depois de longo assédio, submeteu Tiro em 573 a.C. A Pérsia substituiu
a Babilônia em 539 a.C. como poder hegemônico. A partir de então, Sídon passou a ter supremacia sobre as
outras cidades fenícias e colaborou com o império persa contra os gregos, seus principais inimigos na
disputa do controle comercial do Mediterrâneo. Os persas incluíram a Fenícia em sua quinta satrapia
(província), junto com a Palestina e Chipre. Sídon procurou então uma aproximação com os gregos, cuja
influência cultural se acentuou na Fenícia.

No século IV, o macedônio Alexandre o Grande irrompeu na Fenícia; mais uma vez, Tiro foi a cidade que
apresentou a resistência mais forte, mas, esgotada por anos de lutas contínuas, caiu em poder de Alexandre
em 322 a.C. Depois da derrota, toda a Fenícia foi tomada pelos gregos. Finalmente, Roma incorporou a região
a seus domínios, como parte da província da Síria, em 64 a.C.

A Fenícia foi um dos países mais prósperos da antiguidade. Suas cidades desenvolveram uma florescente
indústria, que abastecia os mais distantes mercados. Objetos de madeira talhada (cedro e pinho) e tecidos
de lã, algodão e linho tingidos com a famosa púrpura de Tiro, extraída de um molusco, foram as manufaturas
fenícias de maior prestígio e difusão. Também eram muito procurados os objetos de metal; o cobre, obtido
em Chipre, o ouro, a prata e o bronze foram os mais utilizados, em objetos santuários e em jóias de alto
valor. Os trabalhos em marfim alcançaram grande perfeição técnica na forma de pentes, estojos e estatuetas.
Os fenícios descobriram ainda a técnica de fabricação do vidro e aperfeiçoaram-na para confeccionar belos
objetos. Para os gregos no entanto eles eram vistos como comerciantes desonestos e eram chamados de Phoini
que significava púrpura, ou vermelho que era de fato produzido pelos fenícios na extração das glândulas de
um marisco chamado murex e com ele eram tingidos os tecidos comercializados com muita freqüência em toda a
Europa.

O comércio se fez principalmente pelo mar, eram essencialmente comerciantes marítimos, pois o transporte
terrestre de grandes carregamentos era dificílimo. Essa exigência contribuiu para desenvolver a habilidade
dos fenícios como construtores navais e os transformou em hábeis navegadores. Seus barcos eram os mais
velozes em razão de seu formato que favorecia pela aerodinãmica, onde singravam pelas águas alcançando
sempre um melhor desempenho. Sua fama de um povo de navegadores lhes conferiu uma relação muito próxima com
outra personalidade que lhes foi contemporâneo, o rei Salomão contratou alguns dos fenícios para integrar a
sua frota. Isso pode justificar por suposição, que entre as famosas minas nunca encontradas do rei Salomão,
de onde eram trazidos ouro, prata, diamantes e diversas pedras preciosas, estivessem os territórios da
América do Sul, principalmente o Brasil, e a África de onde se traziam os diamantes.

Para a construção de suas cidades e feitorias, os fenícios escolhiam zonas estratégicas do ponto de vista
comercial e da navegação. Erguiam-nas sempre em portos protegidos, amplas baías que permitiam aos barcos
atracar com facilidade e penínsulas abrigadas. As cidades eram geralmente protegidas com muralhas, e os
edifícios chegavam a uma altura considerável. Nas cidades portuárias fenícias existiam comerciantes gregos,
egípcios, e assírios.

No reinado fenício, a classe dos comerciantes ricos exercia o domínio político em cada cidade, governada
por um rei. A diversidade arquitetônica das casas fenícias que foi possível conhecer revela a existência de
uma marcada diferenciação social entre a oligarquia de mercadores e o conjunto dos trabalhadores artesanais
e agrícolas.

A religião dos fenícios era semelhante à de outros povos do Oriente Médio, embora também apresentasse
características e influências de religiões e crenças de outras áreas como o mar Egeu, o Egito e mais tarde
a Grécia, em conseqüência dos contatos comerciais. Sua origem semita os condiciona a um parentesco com os
hebreus e se auto-intitulavam como cananeus.

A religiosidade se baseava no culto às forças naturais divinizadas e construíram suas embarcações com o
cedro encontrado nas montanhas do Líbano em razão das menções trazidas em Ezequiel.

Foram influenciados por outros povos com os quais praticaram o comércio e deste modo perderam a sua raiz
religiosa equirada aos hebreus (eram da descendência de Canaã), para se tornarem um povo politeísta. A
divindade principal era El, adorado junto com sua companheira e mãe, Asherat ou Elat, deusa do mar. Desses
dois descendiam outros, como Baal, deus das montanhas e da chuva, e Astarte ou Astar, deusa da fertilidade,
chamada Tanit nas colônias do Mediterrâneo ocidental, como Cartago. As cidades fenícias tinham ainda
divindades particulares; Melqart foi o deus de Tiro assim como Tanit, de onde seu culto, com a expansão
marítima, passou ao Ocidente, concretamente a Cartago e Gades. O Baal de Sidon era Eshmun (deus da saúde),
a cidade de Biblos adorava à Adônis (deus da vegetação).

Entre os rituais fenícios mais praticados tiveram papel essencial os sacrifícios de animais, mas também os
humanos, principalmente crianças. Existem relatos de sacrifícios de 200 recém nascidos diante do olhar
incontrolável e indignado de suas mães. Elas eram consideradas alimento dos deuses.

Em geral os templos, normalmente divididos em três espaços, eram edificados em áreas abertas dentro das
cidades. Havia ainda pequenas capelas, altares ao ar livre e santuários com estelas decoradas em relevo.
Os sacerdotes e sacerdotisas freqüentemente herdavam da família o ofício sagrado. Os próprios monarcas
fenícios, homens ou mulheres, exerciam o sacerdócio, para o que se requeria um estudo profundo da tradição.

A civilização ocidental deve aos fenícios a difusão do alfabeto, cuja origem é indefinida, mas é muito
provável que tenha partido de uma necessidade da comercialização e identificação de produtos que eram então
relacionados e comercializados, o alfabeto fenício foi criado com 22 consoantes e difundiu pelo
Mediterrãneo sendo adquirido por judeus, aremeus e gregos que intrduziram as vogais. Povo pragmático por
natureza, os fenícios parecem haver adotado e simplificado formas de escrita mais complexas, talvez de
procedência egípcia, para criar um alfabeto consonântico de 22 letras, que se escreviam da direita para a
esquerda. Os gregos foram os primeiros a receber essa importante herança fenícia, que remonta ao século
XIV a.C.; a exemplo dos latinos e outros povos da antiguidade, os gregos transformaram esse alfabeto e lhe
incorporaram as vogais.

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