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Os indianos: 3. O período de expansão e conflito

by Lucas Gomes



Bimbasara, rei de Magadha, visitando Sakayamuni Budha,
século I a. C.

Foi provavelmente por volta do século VI que as tribos árias,
até então estabelecidas entre os cursos do Indo e do Ganges, progrediram
para o oriente. Um certo número de Estados ou de reinos mais ou menos
estáveis fundou-se, então, na região de Delhi, no “País
do Meio” (Madiadeça), no Aud (Coçala e Videa), no Biar meridional
(Magada); estendem-se, ao sul, até os montes Vindia e possuem todos eles
muitas cidades importantes, entre as quais podemos citar Cauçambi sobre
o Yamuna e Caci (Benares) sobre o Varanavati.

Depois da hegemonia tentada pelo reino dos Currus (Delhi) na época
precedente, é o Magada (Biar meridional) que tentará a sua oportunidade.
Apresenta-se como uma região menos profundamente arianizada que as de
oeste, e na qual os característicos aborígines são mais
firmemente assinalados; é, de resto, considerado pelos árias como
uma região semibárbara. Entre os séculos VI e IV cabe-lhe
empreender a conquista da bacia do Ganges; é o momento em que a dinastia
dos Siçunagas, vinda de Avanti (isto é, do reino ária mais
meridional da época precedente), derruba a dinastia de Briadrata, sobre
a qual praticamente nada se sabe. Os Siçunagas – dos quais apenas os
reis Bimbisara (543-491?) e Ajataçatru (491-459?) são bem conhecidos,
em razão do papel que desempenham na literatura budista – teriam anexado
Bengala, a região de Caci (Benares), o Coçala (Aud) e o Videa
(Biar setentrional). Controlando, assim, uma vasta região cujo eixo era
formado pelo curso médio e inferior do Ganges, o reino de Magada transportou
a sua capital de Rajagria, no Biar setentrional, para Pataliputra (Patna), na
confluência do Sone e do Ganges. Por volta do fim do século IV
a. C., os Siçunagas foram substituídos no trono de Magada pelos
Nandas, sob os quais, segundo se supõe, prosseguiu a atividade unificadora,
e que foram os antepassados dos Maurias que, por sua vez, conseguiram fundar,
por volta de 320, o primeiro império pan-hindu.

Enquanto os territórios orientais da Índia ária assim
se organizavam e procuravam unir-se, os do oeste conheciam a ameaça de
novos invasores: o Império Persa empreendia a conquista das províncias
limítrofes, a princípio sob a direção de Ciro (557-529),
ao qual se atribui a conquista do Capiça (região de Cabul), e
em seguida sob Dario (521-485), cujas novas possessões teriam englobado
o Gândara (regiâo de Peshawar); o conjunto do Pendjab central até
o Biar e, enfim, o Sind. Isto constituiu, para o noroeste da Índia, o
prelúdio de um longo período de agitações, que manteve
a região durante muito tempo à margem da vida hindu propriamente
dita. Isto porque a dominação persa prolongou-se por quase dois
séculos e foi seguida de uma nova intrusão: a dos exércitos
de Alexandre, o Grande, em 326-325. cujas consequências estudaremos
mais tarde.

Podemos, portanto, considerar que a época do reinado de Bimbisara tem
sua importância, pois consagra a primeira unificação de
um vasto território a leste e uma dissidência forçada do
oeste, através do qual as influências iranianas penetram novamente,
como no tempo em que os próprios árias as importavam. Mas esta
época é ainda notável em virtude de acontecimentos de ordem
religiosa, espirituais e sociais, cujas consequências repercutirão
por muito tempo. De fato, a religião védica transformou-se profundamente
sob a ação cada vez mais rígida dos brâmanes; paralelamente,
uma codificação mais marcada começa a encerrar em castas
a sociedade; a moral, tomando-se mais rígida, por imposição
dos brâmanes, tende a restringir a liberdade dos costumes.

Em poucas palavras, o conjunto de fenômenos que compõem a civilização
védica evoluiu para um formalismo que suscitou toda uma série
de “reformas”. Multiplicaram-se as seitas, cada uma propondo uma modalidade
diferente, quanto à obediência à tradição,
ao sacerdócio, à obtenção da libertação
etc. Na época do reinado de Bimbisara, dois homens agem no mesmo sentido:
Sáquia-Múni, que funda o budismo, e aquele que é designado
pelo nome de Maavira, fundador do jainismo. Ambos encontram os espíritos
hindus preparados para a admissão de um reajustamento do pensamento em
relação aos problemas que lhes surgem com crescente acuidade.

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