Home EstudosSala de AulaHistoria Os indianos: 9. O Buda e os budas

Os indianos: 9. O Buda e os budas

by Lucas Gomes

Abrangendo os cinco primeiros séculos da nossa era, este período
foi igualmente influenciado pela cultura helênica, que se prolongou, e
sobretudo pela do Irã sassânida. Este período foi tão
confuso como o precedente e por volta de 120 da nossa era, vemos Citas afluir
do Irã, num redemoinho de turbulentas migrações de tribos
seminômades mongóis, rechaçadas pelos Hiong-nu – os Hunos.
Um poderoso império surgia, estendendo-se do Oxus à bacia do Ganges,
tendo como pivô o Afeganistão; sua influência chegaria até
à Indochina. De origem Yue-tche, a dinastia dos Kaniska, cujo zelo budista
é bem conhecido.

Os Kushana deixaram inumeráveis esculturas, que nos documentam sobre
sua próspera sociedade. Os dois primeiros séculos da nossa era
foram marcados pela extraordinária e intensa densidade das trocas comerciais,
em todas as direções, desde o Mediterrâneo até à
China e pôs em contato os mundos grego, egípcio, romano, árabe,
iraniano, indiano, chinês etc… As idéias e as artes deviam forçosamente
ressentir-se desses contatos.

Na Índia, no século I, o budismo dividiu-se em duas tendências:
o Pequeno Veículo permanece fiel aos textos primitivos, enquanto que
o Grande Veículo dá mais importância ao divino e aos comentários
dos textos, evoluindo cada vez mais para o misticismo. Outros budas juntam-se
ao Buda histórico Sakyamuni. Seis principais precederam-no, um outro
é esperado, Maitreya. Ele pertence ao número dos bodhisattva,
os Salvadores de compaixão infinita que o Grande Veículo multiplica
e venera de tal modo, que suplantarão e mesmo substituirão os
budas no culto. Para melhor se consagrarem à felicidade de seus adoradores,
os bodhisattva retardam o momento de sua entrada no Nirvana.



Escultura de Buda, dinastia Kushana

Em escultura, a imagem canônica do Buda precisa-se; escultores de imagens
fixam alguns dos 80 sinais que o distinguem: a protuberância craniana
– que é a deformação mal interpretada de um coque -, um
tufo de pêlos entre as sobrancelhas, as três pregas no pescoço,
a Roda da lei figurada na palma das mãos ou na planta dos pés,
o hábito monástico etc… Fixam-se cânones não menos
rigorosos para suas atitudes e gestos das mãos e cada qual se reveste
de um significado simbólico, preciso, como uma verdadeira linguagem:
meditação, caridade, descontração, concentração,
prédica, declaração, gestos para tranqüilizar ou para
tomar a terra como testemunha.

Por seu lado, a iconografia brâmane elabora-se igualmente, e ainda que
o fervor popular começasse a distinguir os semideuses Krishna e Rama,
só muito mais tarde triunfariam no domínio das artes.

Em Bengala, num Estado tradicionalmente aberto às idéias e as
artes – sob as dinastias Pala (770-1086) e Sena (até 1202) o budismo
lançou seu último clarão antes de se apagar, brandamente,
nesta região que tinha sido seu berço. Iniciada em 711, em Sind,
por mar, a invasão muçulmana ganhava terreno lentamente, reduzindo
os reinos indianos um a um. Em 1202, foi a vez do Império Pala-sena de
Bengala. A Índia entrava parcialmente na era muçulmana.

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