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Laços de Família, de Clarice Lispector

by Lucas Gomes

6. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Feliz Aniversário” (Laços de Família, 1960), de Clarice Lispector (1920-1977).

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração. Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (LISPECTOR, Clarice. “Feliz Aniversário”. In: Laços de Família. 28. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 78-79.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a obra, considere as afirmativas a seguir.

I. A ação dos membros da família de D. Anita caracteriza-se por constante movimento, como revela a seguinte passagem: “eles se mexiam agitados”.
II. As lembranças do tempo vivido com o marido são marcadas através de um passado mais remoto registrado nos seguintes verbos: “casara”; “respeitara”; “fizera”; “pagara”; “honrara”; “fora”; “dera”; “pudera”.
III. O verbo “cuspir” aparece duas vezes, sendo que na primeira delas atua como desejo reprimido; na segunda, como manifestação conclusiva de seu sentimento de desprezo em relação à família.
IV. A reiteração da expressão “ela era a mãe” marca o sentimento de culpa que acompanha o dia-a-dia da personagem frente à desintegração de sua família.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.

7. (UEL) A questão a seguir refere-se à passagem transcrita do conto “Feliz Aniversário” (Laços de Família, 1960), de Clarice Lispector (1920-1977).

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração. Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (LISPECTOR, Clarice. “Feliz Aniversário”. In: Laços de Família. 28. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 78-79.)

“Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguardos.”

Com base no trecho, é correto afirmar:

a) “casara em hora e tempo devidos” significa que seu casamento foi planejado com muita antecedência.
b) A caracterização entre vírgulas “obediente e independente” refere-se à pessoa representada por “quem” que a antecede.
c) O uso do adjetivo “forte” corresponde a uma ironia, visto que assim se justificam a fraqueza dos familiares e sua identificação com a aniversariante.
d) As orações “lhe fizera filhos” e “lhe pagara os partos” são reveladoras dos valores patriarcais da protagonista.
e) O emprego dos adjetivos “obediente e independente” aplicados a D. Anita é revelador da improbidade da matriarca.

8. (FATEC) “Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou.
Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os.
E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser carne de seu coração, Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada.
Cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa.
Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh, o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os resguardos.
O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade?
O rancor roncava em seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas.
Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão.
– Mamãe! gritou mortificada a dona da casa. Que é isso, mamãe!”
(Clarice Lispector, Feliz aniversário, de Laços de família)

De acordo com esse trecho, é correto afirmar que a aniversariante:

a) sente-se revoltada pelo fato de seus familiares divertirem-se enquanto ela sofre.
b) tem saudades do marido, que a respeitava e a quem ela respeitara.
c) olha para os familiares e reprova o comportamento e a personalidade deles.
d) comporta-se de maneira adequada à situação da festa, embora tenha ódio da família.
e) pensa ter falhado em sua função de educar os filhos, que se mostram desprezíveis a seus
olhos.

9. (UFLA) Em Laços de Família percebe-se que a fala das personagens interfere na condução da narrativa. Só NÃO há essa interferência em

a) “Tudo no fundo, estava igual, só que menor e familiar. Estava sentada bem tesa na sua cama, o estômago tão cheio, absorta, resignada… Empanturras-te e eu que pague o pato, disse-se melancólica.” (Devaneios e Embriaguez de uma rapariga)

b) “Zilda, a dona da casa arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e copos de papelão alusivos à data, espalhara balões sugados pelo teto…” (Feliz Aniversário)

c) “Continuo a dizer que o menino está magro, disse a mãe resistindo aos solavancos do carro. E apesar de Antônio não estar presente, ela usava o mesmo tom de desafio e acusação… (Laços de Família)

d) “Aborrecimento, aborrecimento, ai que chatura. Que maçada. Enfim, ai de mim, seja lá o que Deus bem quiser. Que é que se havia de fazer.” (Devaneios e Embriaguez de uma raparida)

e) “… agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixa, faminta.” (Amor)

10. (PUC-Rio) Feliz aniversário

A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeites de paetês e um drapejado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados – e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas com babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.
Tendo Zilda – a filha com quem a aniversariante morava – disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição ultrajada. “Vim para não deixar de vir”, dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda – a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante -, e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.
E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.

LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, pp. 59-60.

Há trinta anos morria uma das mais importantes escritoras brasileiras – Clarice Lispector. Sua obra, composta basicamente de romances e contos, representa uma tentativa de decifrar os mistérios da criação e a densidade das relações humanas. A partir da leitura do fragmento do conto Feliz aniversário transcrito acima, responda à seguinte pergunta: que relação pode ser estabelecida entre o título do texto e o comportamento das personagens?

RESPOSTA: O título do conto reflete com ironia o contraste entre a concepção tradicional de uma festa de aniversário e o comportamento das personagens. As atitudes e os sentimentos dos membros da família, com exceção da própria aniversariante, indicam um clima de animosidade, hipocrisia e desagregação familiar.

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