Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro
belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por
causa de Itabira; mas, paradoxalmente: “A vontade de amor (…) vem de Itabira”;
vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação
de Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades,
o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.