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Revolução Mexicana: 2. O Porfiriato

by Lucas Gomes


General Porfírio Diaz

Porfírio Diaz assumiu o poder com uma plataforma liberal – laicização do Estado e reformas políticas.

• “Muita administração e pouca política”
• Período de crescimento econômico e consolidação da fronteira norte
• Grandes investimentos externos na mineração

O Porfiriato (1876-1911)

Aspectos políticos e econômicos gerais

O General Porfírio Diaz, que havia lutado contra Sant’Anna, participado do movimento das Reformas Liberais
e das guerras contra a França, tornou-se presidente em 1876. Em 1880 seu aliado Manuel González foi eleito,
governando de 1880 a 1884. Em 1884, Porfírio Diaz é novamente eleito presidente, e, devido a modificações
do texto constitucional de 1857, governou de 1884 a 1910 através de sucessivas “reeleições”.

Seu governo foi tipicamente uma república positivista, modelo seguido pela primeira Republica brasileira,
com base ideológica no Positivismo de Augusto Comte e no Darwinismo Social de Herbert Spencer.
Politicamente, foi marcado por uma centralização extrema, uma unificação do poder através da repressão aos
líderes caudilhos regionais. Sua política regional foi pautada na tríade repressão / cooptação /
conciliação.

Dentre as medidas adotadas pelo governo de Diaz, tipicamente positivistas, destacam-se as obras para
fortalecimento das vias de transporte e a estruturacao de um sistema educacional. O governo visava,
através da modernização institucional, o crescimento econômico, que ocorreu em proporções unicas. De 1876
a 1900 o México cresceu 8% ao ano, a maior taxa de crescimento do continente, superando o crescimento da
economia estadunidense no mesmo período, e sendo ate hoje um caso rarissimo de crescimento prolongado,
mantido por incríveis vinte e quatro anos seguidos.

Diferenças regionais e Capitalismo Dependente

Historicamente, desde antes da invasão espanhola e da colonização, o México foi marcado por diferenças
regionais entre Norte, Centro e Sul/Sudeste, que se manifestam nas caracteristicas fisicas das regioes, e
emanam para as esferas social e econômica.

A porção norte do México é mais desértica, e por isso menos povoada. Também por fatores naturais as
populações, em sua maioria tribos nômades, desde a proto-história da região se dedicavam àA cultura
pastoril. Durante cerca de quatro séculos, as tribos da regiao sobreviveram aos ataques e invasões dos
Apaches, considerados grandes guerreiros, o que fomentou uma cultura de resistencia. A região tem riquezas
minerais importantes, e, no século XIX, foi a de maior desenvolvimento do capitalismo, especialmente com a
exploração de cobre, estanho, chumbo e prata financiada por capital externo. Ressaltam-se ainda, no
referido seculo, as atividades de metalurgia, a indústria têxtil, a agropecuária e a produção de bens de
consumo em geral.


Gente do méxico rural de 1900

O Sul dividia-se, no século XIX, entre grandes propriedades capitalistas e bolsões controlados por povos
indígenas, com propriedades comunais de subsistência. Desde as etnias Maias que ocupavam a região, e que
resistiram à expansão azteca, observamos uma tradicao milenar de resistência entre o campesinato indígena,
sobre a qual falaremos mais adiante. As propriedades capitalistas, controladas por companhias estrangeiras,
eram utilizadas para culturas de exportação, como o café e o sisal (cuja extração causava muitos acidentes
de trabalho).

Os aztecas, vindos originariamente do Norte, se estabeleceram na porção central do México, onde construíram
o seu grande Império, com grandes cidades. Posteriormente, com a colonização, a região continuou
apresentando um contingente populacional relativamente grande. A Cidade do México, por exemplo, já era, no
século XIX, a maior cidade das Américas (em 1810 já contava com 200.000 habitantes!). Nos arredores da
Cidade do México formou-se uma malha urbana industrial, e um proletariado que, concentrado na região, ainda
era de proporções reduzidas se levada em conta a totalidade da população mexicana.

As diferenças regionais são um dos elos do chamado “Capitalismo Dependente”, modelo do final do século XIX
e começo do século XX no México, e que depois se manifestaria em outros paises latino-americanos, em
especial no Brasil. Este modelo se caracterizava por três pilares: o pArimeiro é justamente a desigualdade,
não só regional, como destacado, mas também social e setorial; o segundo pilar é a hegemonia do capital
estrangeiro (no México da época, especialmente os capitais inglês, estadunidense, alemão e francês); o
terceiro pilar é o uso permanente da força repressiva, já que um regime dinâmico, controlado por
estrangeiros e altamente desigual só se sustentaria com com uma Contra-Revolução Permanente.

O fim do Porfiriato e a Revolução


Porfírio Diaz na Cerimônia de Comemoração da Morte de Benito Juárez.
Fototeca do Instituto Nacional de Antropología e Historia, Fundação Casasolas

O Porfiriato apresentava contradições evidentes em quatro questões principais:
a agrária, a social, a nacional e a democrática. A seguir traçaremos, em suma,
os fatos historicos principais relativos às questões citadas.

Em 1890, surge no Mexico um movimento anti-reeleição, liderado pelos irmãos Ricardo Flores Magon e Enrique
Flores Magon. Este ultimo, inicialmente liberal, transitará em 1912 para o anarquismo, o que, para João
Antônio de Paula, é sintomático da esquerdização e radicalização próprias do processo revolucionário no
México como um todo. Também participou do movimento o político liberal de oposição Francisco Madero, que
fazia uma oposição moderada a Porfírio Diaz, e nao teve maior projeção.

Em 1909, ou seja, no ano anterior ao das eleições, foi empreendida uma ampla campanha anti-reeleição. Diaz
já havia cumprido seis mandatos, sido reeleito sucessivas vezes. A campanha teve como principais líderes os
irmãos Gustavo e Francisco Madero, e conseguiu a adesão de muitos políticos e líderes da época, mas ainda
era um movimento com uma demanda somente democrática, quando outras questões tambem tinham enorme
importancia no cenario nacional. Em 1910, Porfírio Diaz se reelege. O movimento anti-reeleição denuncia as
eleições, mas é derrotado e, no mesmo ano, Diaz toma posse.

Ainda na primeira década do século XX, o operariado urbano intensifica suas manifestações, que passam a não
ser apenas greves comuns, mas insurgências radicais, que foram duramenAte reprimidas pelo governo, com
destaque para as greves de Cananea e da fábrica de Rio Blanco, em Orizaba, em 1906 e 1907, respectivamente
(e organizadas pelo Partido Liberal Mexicano). As greves se davam geralmente em companhias mineradoras e
petroleiras, controladas preferencialmente pelo capital estrangeiro.

O capital estrangeiro controlava as atividades de mineração e exploração do petróleo, e as indústrias do
operariado urbano de uma forma geral, além dos grandes latifúndios no campo. O capital externo chegou a
deter mais de 25 milhões de hectares de terras mexicanas (!).

Em 1911 ocorreria uma sublevação geral, que reuniu a oposição liberal e a oposição popular. Os principais
líderes da oposição liberal, que se concentrava na região Noroeste do México, eram: Francisco Madero,
Álvaro Obregón e Venustiniano Carranza. Esta oposição fundaria posteriormente o chamado Partido
Progressista Constitucional. Os principais líderes da oposição popular eram Francisco Villa, da porção
norte, e Emiliano Zapata, da região sul.

Villa era um típico “bandido social”, no conceito cunhado pelo historiador Eric HOBSBAWN, e tinha um
exército de cerca de trinta mil homens. Descendente de indígenas maias que viviam em conflito permanente
com os apaches, Villa carregava a tradição de táticas militares de guerrilha, e teve pouquíssimas derrotas.
Zapata era um líder popular da típica cultura indígena guerreira, de resistência, do Sul do México, e tinha
um exército de cerca de quinze mil homens. Curiosamente, Zapata nunca perderia sequer uma batalha, até ser
assassinado em uma emboscada, no final de 1919.

Este movimento amplo, reunindo liberais e lideranças populares, terminaria por vencer as forças de Porfírio
Diaz, que renunciou em 25 de Junho de 1911. Francisco Madero, que se tornara a partir do seu “Plano de San
Luís de Potosí” o grande líder da sublevação, tomaria posse como lider maior da nacao no mesmo ano.

O “Plano de San Luís de Potosí” contiAnha propostas relativamente moderadas, onde se destacam: o fim da
reeleição, a separação entre Estado e Igreja, e o encaminhamento da questão agrária (colocado em termos
muito genéricos).

A partir da posse de Madero, os demais movimentos que o apoiaram começaram a questioná-lo. A direita
mexicana, na figura de Pascoal Orozco, apresenta o “Plano de Chiuaua”. A esquerda, na figura de Zapata, o
“Plano de Ayala”. Aproveitando-se da instabilidade politica daquele contexto, Orozco tenta dar um golpe,
que nao obteve sucesso. Madero designa o General Huerta, chefe das Forças Armadas, para combater os
movimentos de oposição, e o mesmo Huerta, em 1913, trai Madero, assassinando-o e tomando o poder com apoio
de parte do exército. Por causa desse episodio, Huerta recebeu as alcunhas de “O Matador” e “O Traidor”.
Os EUA, que eram neutros em relação a Madero, mas o tinham em certa conta, decidem invader o Mexico apos o
golpe de 1913, e chegam a tomar a segunda maior cidade mexicana, Veracruz.

A invasão estadunidense desestabiliza Huerta, que passa a lutar contra os demais líderes mexicanos e contra
os norte-americanos, ou seja, em duas frentes. A oposição liberal de Carranza e Obregón, e a oposição
popular de Villa e Zapata terminam por derrotar Huerta em 1914.

Obregón, diga-se de passagem, cria a sistemática política que culminará, tempos depois, no Partido
Revolucionário Institucional, o PRI (a partir de 1929, quando ainda se chamava Partido Nacional
Revolucionário). Ele conseguiria unificar o exército e cooptar o movimento sindical, organizado em 1916 com
a criação da CROM (Confederación Revolucionária Obrera Mexicana), que depois se transforma na CMT
(Confederación Mexicana de Trabajadores). Os únicos movimentos não cooptados por Obregón seriam o comunista
e o anarquista (este liderado pelos irmãos Magon).

A partir de 1914, e até 1917, o México vive uma Guerra Civil entre as forças liberais e o exército
zapatista. Villa se mantém relativamente neutroA, apesar de apoiar Carranza esporadicamente e de ter uma
relação de fidelidade em relação a ele. Em 1917, Carranza vence a guerra e convoca uma Assembléia
Constituinte em 1º. de dezembro de 1917. Esta elege Carranza como “Presidente Constitucional”, cargo que
exerceria até 1920, quando seria assassinado.

Fonte: Henrique Napoleão Alves, Direito pela UFMG

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