Em pronunciamento (foto ao lado) no dia 25 de setembro deste ano (2007), diante de outros líderes, o presidente Lula defendeu nova conferência mundial sobre meio ambiente, anunciou redução de desmatamento na Amazônia e apelou pelo fim dos subsídios agrícolas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs, neste discurso de abertura da 62ª Assembléia Geral da ONU, em Nova York, a realização em 2012, no Brasil, de uma conferência mundial para discutir as mudanças ambientais, a “Rio+20”. O evento seria nos moldes da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a “Rio 92”. Lula frisou que a eqüidade social é a melhor arma contra a degradação do planeta, e disse não ser admissível que o ônus maior da imprevidência dos privilegiados recaia sobre os despossuídos da Terra.
Lula afirmou que a comunidade internacional precisa reverter essa lógica aparentemente realista e sofisticada, mas na verdade anacrônica, predatória e insensata, da multiplicação do lucro e da riqueza a qualquer preço. E profetizou: Se o modelo de desenvolvimento global não for repensado, crescem os riscos de uma catástrofe ambiental e humana sem precedentes.
O chefe de Estado ressaltou os resultados brasileiros no combate às mudanças climáticas e destacou as iniciativas do governo na Amazônia. Embora as queimadas tenham aumentado 30% em comparação com 2006, Lula afirmou que o desmatamento da região foi reduzido à metade. Um resultado como esse não é obra do acaso. Até porque o Brasil não abdica, em nenhuma hipótese, de sua soberania nem de suas responsabilidades na Amazônia, garantiu.
Lula também anunciou que o Brasil será sede de uma reunião sobre biocombustíveis em 2008. E revelou que o país lançará em breve o Plano Nacional de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. O presidente tratou ainda do programa brasileiro de etanol e comentou que os biocombustíveis podem ser muito mais do que uma alternativa de energia limpa. Ele também refutou as críticas encabeçadas pelo líder cubano, Fidel Castro de que o etanol pode contribuir para a fome mundial. A experiência brasileira de três décadas mostra que a produção de biocombustíveis não afeta a segurança alimentar, enfatizou.
Agricultura
Lula fez ainda apelos pelo fim dos subsídios à agricultura. São inaceitáveis os exorbitantes subsídios agrícolas, que enriquecem os ricos e empobrecem os pobres. É inadmissível um protecionismo que perpetua a dependência e o subdesenvolvimento, declarou. Após discursar, ele disse estar confiante de que um acordo para destravar as negociações da Rodada de Doha possa ser alcançado ainda neste ano. Estou convencido de que poderemos fechar o acordo, para a felicidade de todos nós. Estamos mais perto de uma negociação do que em qualquer outro momento histórico, disse.
Lula definiu como promissora a reunião que teve com o colega norte-americano, George W. Bush, no dia 24 de setembro. Segundo ele, já houve uma mudança no comportamento do presidente Bush. Os Estados Unidos estão definitivamente com a disposição de flexibilizar na questão dos subsídios (agrícolas), para que haja um acordo, declarou. Indagado sobre o que os Estados Unidos esperam do Brasil, em contrapartida, Lula riu e afirmou existir um tripé de desejos e aspirações que estão na mesa de negociação, avançando a cada dia que passa. Em seguida, no entanto, admitiu que todos querem que o Brasil flexibilize nos produtos industriais. O presidente defendeu que todos os países envolvidos precisam chegar a um número de consenso, e esse número já está caminhando. Por outro lado, reconheceu que ainda vai ter um pouco de dificuldade, porque ninguém quer ceder.
O número
1947 foi quando o Brasil tornou-se o primeiro país a discursar na Assembléia Geral. O então chanceler Oswaldo Aranha se inscreveu primeiro para falar, e a tradição até hoje é mantida.
Ausência venezuelana
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, desistiu de discursar na ONU neste ano, alegando estar muito ocupado. No ano passado, ele roubou a cena ao dizer que ainda podia sentir o cheiro de enxofre depois de o diabo (numa referência a George W. Bush) ter passado por lá.
O discurso e a análise
Rio+20
É muito importante o tratamento político integrado de toda a agenda ambiental. O Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a “Rio-92”. Precisamos avaliar o caminho percorrido e estabelecer novas linhas de atuação. Proponho a realização, em 2012, de uma nova conferência, que o Brasil se oferece para sediar, a “Rio+20”.
A realização de uma conferência sobre meio ambiente no Brasil em 2012, como o presidente Lula sugeriu, seria algo bom porque marcaria os 20 anos da “Rio-92”. Mas o problema climático é mais urgente. Não sei se devemos esperar 5 anos. O melhor seria se Lula articulasse com a ONU a realização de um evento ainda neste ano. (David Fleischer, professor de Ciência Política da UnB).
Biocombustíveis
O etanol e o biodiesel podem abrir excelentes oportunidades para mais de uma centena de países pobres e em desenvolvimento: na América Latina, na Ásia e, sobretudo, na África. Podem propiciar autonomia energética, sem necessidade de grandes investimentos. Podem gerar emprego e renda e favorecer a agricultura familiar. E podem equilibrar a balança comercial, diminuindo as importações e gerando excedentes exportáveis.
A questão do etanol, se vingar, terá a possibilidade de virar matriz energética. Isso não significa apenas que haverá mais uma forma de energia limpa, mas que o novo mercado mexerá com o de petróleo. E isso incomoda o venezuelano Hugo Chávez e seu aliado Fidel Castro. A afirmação de Lula de que o etanol não prejudica a segurança alimentar mundial foi recado para eles. (Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unibero-SP).
Fonte: Correio Brasiliense